A Páscoa se notabiliza como um período de festividades e alta demanda por produtos sazonais, especialmente ovos de chocolate e cestas temáticas. Assim como em outras datas comemorativas, como o Natal e o Dia das Mães, a Páscoa movimenta significativamente o setor de confeitaria e o varejo. O período é visto como uma boa oportunidade para quem deseja fazer renda extra, pois abre possibilidades para empreendedores testarem novos produtos, conquistarem clientes e ampliarem sua presença no mercado.

Para a tatuadora e estudante Thais Barreto, a Páscoa se tornou uma oportunidade profissional. Com experiência no mundo das artes, ela optou por utilizar seu talento em um novo negócio: a produção de cestas personalizadas que incluem telas pintadas à mão. A ideia, no entanto, não surgiu agora. Em 2018, Thais criou uma cesta especial para presentear uma amiga com uma tela personalizada. A repercussão foi tão boa que virou negócio na capital potiguar.

“Tirei uma foto e postei no Instagram. Na época, algumas pessoas vieram me perguntar: ‘Onde você comprou essa cesta?’. Eu disse: ‘Na verdade, eu criei’. Só que deixei para lá, apesar de o pessoal ter falado que eu deveria voltar a fazer para vender”, conta.

Diante da queda na demanda por tatuagens neste ano, Thais apostou no negócio de cestas personalizadas e lançou a “BrindArte Cestas Comemorativas”. Por meio de um perfil no Instagram, ela divulga suas criações que combinam seu trabalho artístico com uma seleção refinada de chocolates e vinhos. O diferencial do produto está justamente na tela personalizada que também pode ser escolhida pelo cliente.

Um dos principais desafios, segundo ela, é a alta dos preços do chocolate. Para manter o padrão de qualidade do produto sem alterar tanto o custo, Thais explica que a saída tem sido uma pesquisa intensa por preços mais acessíveis. “Eu estou gastando um dinheiro bem considerável na compra desses produtos, mas estou pesquisando bastante. Eu vou a vários locais para ver onde está mais barato e ainda bem que encontrei produtos com preço bom, pelo menos em comparação”, diz. “Acaba que isso reflete no valor da cesta. Não é muito barata, mas também tem essa questão do público. Eu vou tentar conseguir um público que consiga pagar o valor da cesta”, acrescenta Barreto.

Formada em Direito, Luiza Valentim, que empreende no mundo dos doces há 10 anos em Natal — sendo cinco na produção de ovos de Páscoa artesanais — admite estar surpresa com a alta demanda de pedidos para este ano, mesmo com a elevação do preço do cacau, principal matéria-prima do chocolate. Responsável pela marca “Luiza Doces Gourmet”, ela conta que, diante desse contexto, somado ao aumento do ICMS de 18% para 20% no Rio Grande do Norte, foi necessário elevar o preço dos produtos, mas sem repassar todo o custo aos clientes.

“Em tese, o certo seria aumentar os valores. Porque os chocolates com que a gente trabalha são de primeira linha, têm ficado mais caros e estão mais difíceis de encontrar, porque a produção está um pouco menor este ano”, diz. “Mas, como é importante mantermos um preço competitivo em relação a outros empreendedores, não conseguimos aumentar o valor na média que deveríamos. Ainda assim, infelizmente tivemos que aumentar o preço, por conta do aumento do ICMS e dos valores dos itens e chocolates”, explica Valentim.

Em relação aos ingredientes para a confecção dos produtos, Luiza afirma que optou por não substituí-los por outros mais acessíveis. Apesar de lucrar menos em comparação a períodos anteriores, ela reforça que busca proporcionar ao público um produto de melhor qualidade. “A gente mantém todos os nossos ingredientes, porque isso é primordial. O produto tem que ser, além de comercial, bom e de boa qualidade. Então, mantemos todos os ingredientes originais. Mas, infelizmente, é isso: ganha-se um pouquinho menos, o lucro é menor, mas ainda assim, entregamos pensando no cliente”, declara.

Para a Páscoa deste ano, a jovem empreendedora buscou apresentar diferenciais em seus produtos. Um deles é o trabalho de montagem dos ovos de Páscoa, oferecendo desde modelos com sabores específicos até aqueles em que os clientes escolhem como desejam — desde os recheios até a decoração. Luiza considera que a personalização é um atrativo a mais para o público, aliada à estratégia de utilizar sabores que não são comuns de serem vistos em outros lugares.

Thais une arte e negócio para criar cestas personalizadas | Foto: Adriano Abreu

Vendas de Páscoa devem crescer até 8% em 2025

O aumento da demanda por produtos de Páscoa nesse período pode ser traduzido em números. Conforme projeções da Associação de Supermercadistas do RN (Assurn), as vendas relacionadas a itens no período de Páscoa, como vinhos, refrigerantes, azeites, pescados, chocolates e alimentos para a Semana Santa no Rio Grande do Norte devem ter um crescimento de até 8%. Nos últimos anos, a média tem sido de 5 a 8%, enquanto a nível nacional varia de 8 a 12%.

Para o presidente da Assurn, Gilvan Mikelyson, as vendas no período da Páscoa representam uma das melhores épocas de vendas sazonais no ano, atrás somente do Natal e do Ano Novo.

“Essas expectativas consideram também o aumento dos produtos, que cresceram de preço; a inflação se estende a ele, com chocolate aumentando muito o preço, vinhos. Esse crescimento no faturamento se deve um pouco também a esse aumento nos preços. Sempre estamos otimistas, porque a sazonalidade da Páscoa só perde para a do Natal. Nesse período, nos preparamos de forma otimista, sempre achando que vai dar certo”, explicou em entrevista à TN.

O preço do cacau aumentou cerca de 180% nos últimos dois anos no mercado internacional, afetando diretamente os valores dos produtos de Páscoa e a cadeia produtiva permanente do setor. O principal motivo da alta é a quebra de safra nos principais países produtores da África, especialmente no segundo semestre de 2024. Na Costa do Marfim, maior produtor global da fruta, ondas de calor e longos períodos de seca continuam a prejudicar as plantações. A expectativa, segundo especialistas, é de baixa oferta global de cacau também para esta temporada.

“Isso vai influenciar o desenvolvimento da planta, a brotação e a formação dos frutos, e com isso uma menor oferta”, explicou Letícia Barony, assessora técnica da Comissão Nacional de Fruticultura da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Apesar da crise global, o Brasil projeta crescimento na produção de cacau em 2025, após anos consecutivos de queda. O país ocupa atualmente a sexta posição entre os maiores produtores mundiais, com uma produção anual de cerca de 300 mil toneladas, concentrada em mais de 90% nos estados do Pará e da Bahia.

Tribuna do Norte

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