Roosevelt de Araújo Sales Júnior, de 29 anos, e Francisco Chagas Barbalho Neto, de 23, acordaram no sábado (7) em meio às notícias de que Israel, país onde chegaram na terça-feira (3) para um intercâmbio de 45 dias, estava sob ataque e iria iniciar uma guerra. Os dois moram em Hatzeva, uma comunidade rural localizada perto de Tel Aviv, relativamente longe do local do conflito. Ainda assim, os dois decidiram deixar o País, através dos aviões disponibilizados pelo Brasil. Eles dependem agora de uma autorização do Itamaraty e ainda não têm previsão de retorno ao RN.
De antemão, os potiguares ficaram assustados com o que viram na imprensa, mas o ambiente pacato em torno da pequena Hatzeva, ajudou a acalmar os dois. “Nós não estamos acostumados com essa situação. Quando começaram a surgir as notícias, tudo foi muito chocante e impactante”, conta Júnior. “Mas não houve nenhum ataque por aqui. Ouvi da dona da casa onde estamos hospedados que conflitos ‘são normais em Israel e que a vida continua’”, complementa Barbalho.
Os dois são estudantes da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa), em Mossoró. Barbalho está concluindo a graduação no curso de Biotecnologia, enquanto Júnior está no segundo ano do doutorado em Ciência Animal. A parceria entre a universidade e a empresa Colors Farm, onde os potiguares atuam, e a presença de outros brasileiros em Hatzeva, foram os atrativos para que os dois optassem pelo país israelense como local de intercâmbio.
“Temos alguns brasileiros por aqui, que acabam servindo como rede de apoio. Inclusive, nossa chefe é do Brasil. Ela veio nos explicar que Hatzeva fica muito longe desse caos que o país enfrenta”, afirma Barbalho, que conseguiu uma autorização da Ufersa para se formar em Israel. Diante da escalada de violência, ele e o colega aguardavam, até a tarde desta segunda-feira (9), uma autorização do Governo brasileiro para deixar o Oriente Médio.
“O medo da guerra nós temos, mas, por estarmos distantes de locais como Tel Aviv, e Jerusalém [que estão sob ataque], nosso receio é mais com a logística para voltar ao Brasil, porque é um momento muito delicado para se locomover pelas estradas, já que há infiltrados nas rodovias”, pontua Chagas Barbalho. Ele frisa que não há preocupação, até o momento, com a permanência no país, mas reconhece que gostaria de poder voltar ao Brasil para tranquilizar a família. O perigo de que o conflito ganhe novas proporções também é um receio.
“Felizmente, estamos bem e seguros. Em momento algum corremos risco, mas sabemos que se as coisas tomarem uma proporção maior, não haverá lugar seguro em Israel. Diante disso, a gente pretende antecipar o retorno para o Brasil”, afirma Sales Júnior. “Nosso desejo agora é deixar o País. A universidade está tentando resolver a situação. Decidimos isso, uma vez que o conflito pode se alastrar para todo o Oriente Médio”, diz Barbalho.
“Não estamos desesperados para voltar, mas é a opção mais sensata. Queremos encontrar nossas famílias para acalmá-las”, completou o estudante de Biotecnologia. Ludimilla Oliveira, reitora da Ufersa, informou que acompanha a situação junto ao Itamaraty. “Tive uma reunião esta manhã com a Embaixada em Israel. Fizemos o protocolo para trazer os estudantes ao País, mas o impasse é o deslocamento deles até o aeroporto de Tel Aviv, que não foi autorizado pelo Itamaraty”, descreveu.
Os estudantes Chagas Carvalho e Sales Júnior, da Ufersa, estão em uma casa alugada em Hatzeva, uma moshav (espécie de comunidade que reúne várias fazendas), há cerca de duas horas de vigem de Tel Aviv. A Colors Farm, onde eles trabalham, atua no ramo da piscicultura e da agricultura. No local são produzidos peixes ornamentais, tâmaras e alface. “Em 25 minutos, a gente consegue percorrer a moshav inteira”, afirma Barbalho.
A área está localizada próxima à fronteira com a Jordânia. Os estudantes potiguares contam que os moradores relataram nunca ter havido ataques na região, que fica no meio do deserto. Já na chegada ao local, Chagas Barbalho conta o que ouviu da dona da casa onde eles estão instalados. “Ela veio nos informar que existe um bunker, muito comum em Israel, justamente porque é um país que vive em constante conflito e nos instruiu que, caso os alarmes da cidade toquem, é porque estão indicando que a área está sob ataque. Então, nós devemos correr o mais rápido possível para o bunker a fim de nos protegermos ”, relatou.
“O bunker é basicamente um quarto anti-bombas que toda casa em Israel tem”, explica o estudante em seguida. Ele conta que o conflito é considerado ‘normal’ pelos locais. “A população daqui está muito calma, porque não é a primeira vez que eles passam por isso. A dona da casa disse que situações como essa são normais, pediu para que a gente não se impressionasse tanto e que evitasse ver o noticiário”, falou o potiguar.
Segundo ele, a vida na região está tranquila, com caminhões seguindo para as fazendas e as poucas pessoas, como de costume, caminhando pelas ruas. “Não visualizamos nem ouvimos nada que nos assustasse. No domingo (8), notamos um movimento maior de aviões pelos céus, mas acreditamos, inclusive, que são comerciais”, detalha o estudante Chagas Barbalho.
Tribuna do Norte