A figura paterna, durante séculos vista como austera e até autoritária, mudou. A sociedade contemporânea pede um homem mais presente, afetivo e participativo. Muito mais que um provedor distante e severo. Essa presença real na vida dos filhos promove benefícios evidentes na criação, sendo um dos fatores essenciais para o desenvolvimento cognitivo e social da criança. O processo é longo e difícil, mas ter noção de suas responsabilidades é um dos princípios da paternidade.
Nos dias de hoje é retrogrado pensar ou agir como se cuidar dos filhos fosse uma função só da mulher, afirma Mônica Guimarães, analista de perfil comportamental. Daí se ressalta a importância de um pai presente. “Isso faz toda diferença na formação e educação do filho, pois essa presença potencializa e muitas vezes é decisória na construção e no desenvolvimento da autoestima, da proteção das emoções e na capacidade de lidar com as frustrações e com as perdas”, explica.
Um pai que participa ativamente da educação dos filhos promove neles um sentimento de pertencimento fundamental. “O filho se sente pertencente, importante e amado. E em um ambiente ou relação em que essa tríade está presente, a educação flui, se constrói pessoas mais fortalecidas e confiantes”, ressalta.
Muitas vezes, o pai não participa das reuniões escolares – uma ausência que costuma ser cada vez mais sentida. “Ser pai dá trabalho, se fazer presente na vida do filho dá trabalho, porém não se fazer presente gera consequências muitas vezes maiores e irreparáveis que também darão muito trabalho no futuro”, analisa Mônica.
O papel de “pai herói” , um clichê de paternidade, também deve ser pensado de forma mais realista pelos pais e, principalmente, os filhos. “As crianças veem seus pais como heróis, o problema é quando o pai não ocupa o seu lugar de herói e frusta as expectativas da criança, o que pode resultar em um desencantamento na paternidade”, diz ela.
O amor é o fio condutor do desenvolvimento afetivo de qualquer pessoa, e com as crianças não é diferente, afirma Mônica. “Na relação pai e filho, o pai tem o papel de conduzir esse desenvolvimento, criando experiência e vivências a partir do pertencimento, da importância, da generosidade, do crescimento pessoal. Tudo isso sem deixar de dar limites. Pois dar limites é também um ato de amor”, completa.
A importância paterna na formação e educação dos filhos não se resume a um papel determinado. “Dedicar tempo de qualidade e colecionar memórias através de experiências positivas, são algumas das atitudes que possibilitam o fortalecimento da identidade do filho e muda a mentalidade do pai”, afirma.
Mônica não vê problema com o papel do pai “provedor”, pois acredita que há um uso equivocado dela. “O que tem acontecido é interpretação equivocada de que provedor é apenas o que financia. E essa interpretação é limitada, a provisão paterna não deve ser apenas financeira, ela deve criar um ambiente de amor, afeto e carinho propício para o desenvolvimento do filho, respeitando a sua identidade”, diz.
Pais que cuidam
Luiz Murat Barros queria ter sido pai mais cedo. Ele tinha 36 anos quando Luiz Guilherme, hoje com 12 anos, veio ao mundo. O assistente de produção sempre se considerou uma pessoa bastante racional sobre tudo, mas viu várias de suas convicções mudarem quando a paternidade aconteceu. “A percepção de se tornar responsável por outra vida é forte demais. O amadurecimento é intenso”, diz ele, ainda mais por seu filho ter sido muito desejado e planejado.
Ele conta não ter tido uma relação próxima com o pai, sendo o mais novo de cinco filhos. “Eu nunca tive muito diálogo com meu pai, e já sofri muito por isso. Então fiz e ainda faço tudo para não repetir isso com meu filho”, diz, ressaltando que tem consciência da geração conservadora na qual se criou, onde o papel do pai era basicamente de “prover”, em detrimento da participação mais afetiva.
Luiz foi um daqueles pais que trocou fralda, deu banho, zelou o sono, e fez tudo junto com a mãe. Para ele, um processo natural que não termina quando a criança sai do berço. Agora Luiz Guilherme é um pré-adolescente, tem TDA (Transtorno de Déficit de Atenção), e o pai quer mais do que nunca se mostrar presente.
“Ele é um menino introspectivo, mas sabe que estou perto dele em tudo. O trabalho nem sempre me deixa disponível, mas eu compenso isso. Há gente que está presente fisicamente, mas fica distante nas ações. Mas eu mostro que estou presente pro que der e vier”, afirma.
O bancário Rodrigo Marques tem dois filhos adolescentes e foi pai aos 31 anos. Teve um pai bastante ausente devido ao trabalho, e viu a mãe ter que desempenhar as duas funções. Esse fato fez com que ele tivesse a dimensão real das responsabilidades da paternidade. “Ser pai, educador, consolador é uma atribuição que demanda tanto, que acho injusto que seja realizado só por um dos genitores. É muita coisa. Dessa forma sempre tentei ser um pai diferente do que tive”, explica.
Rodrigo não tinha referências de irmãos mais novos e sobrinhos quando foi pai, mas acredita que maternidade e paternidade têm algo de instintivo. “Nos primeiros três meses de vida, só eu dava banho nos dois, sempre fiz questão de participar de tudo. Quando eram bebês, eu quem os colocava para dormir. Sempre tentei ser presente e acho que consegui”, diz.
Ele considera vantajoso ter um emprego que permite o contato maior com as crianças. “Levar para a escola, fazer refeições juntos, ajudar a estudar para as provas, caminhar, fazer compras, sentar e conversar sério, sentar e falar bobeiras só para vê-los sorrir. Acredito que estou conseguindo ser um pai diferente do meu”, afirma. Para Rodrigo, pai presente “é aquele que enxerga o presente divino de ser pai”.
Tádzio França
Repórter