Vídeos e áudios obtidos pelo Fantástico mostram conversas da organização criminosa que subornava dirigentes e jogadores de futebol para fabricar resultados e faturar milhões em apostas online.
O grupo atuava em partidas no Brasil e no exterior e só foi desmascarado após fazer contato com o presidente de um clube de Goiás que também é delegado de polícia. O alvo principal eram clubes pequenos.
“Inicialmente, eu achei que tratava de um patrocínio e comecei a conversar com ele. E, durante essa conversa, a gente viu que realmente não era nada legalizado”, conta o delegado Marco Antônio Maia, presidente do clube Goianésia Esporte Clube.
A proposta inicial era a seguinte: o Goianésia receberia investimentos para montar um bom time. Como contrapartida, precisaria entregar alguns jogos no campeonato goiano de 2023.
A conversa não evoluiu. Só que, meses depois, o delegado recebeu outra oferta do grupo: para intermediar o contato com o presidente de outro clube, também goiano, que iria disputar a série D do Campeonato Brasileiro, já que o Goianésia não disputaria.
“Não sabe quem ‘tá’ no sufoco aí precisando de alguém para chegar junto?”, questiona Fábio Francisco de Oliveira, um dos apontados na investigação como articulador da quadrilha.
“O senhor não vai ser esquecido. Todo mês vai pingar o seu aí também”, afirma.
O presidente do Goianésia apresentou as provas do aliciamento à polícia e, numa operação deflagrada esta semana, a Polícia Civil de Goiás prendeu seis pessoas.
Entre elas, estão Fábio Francisco de Oliveira, Leonardo Lobo Araújo — que foi solto após a audiência de custódia –, e Cleuson de Souza Barros, ex-presidente do Crato Futebol Clube. Eles são suspeitos de manipulação de resultados, estelionato e organização criminosa.
Segundo a polícia, Cleuson recebeu depósitos bancários de Fábio na véspera de, pelo menos, dez jogos do time pelo campeonato cearense de 2022. Foram nove derrotas e um empate. O desempenho levantou suspeitas de manipulação e a Justiça Desportiva do Ceará suspendeu o Crato durante a competição.
A defesa de Cleuson considerou a prisão desnecessária, já que o seu cliente tinha prestado todos os esclarecimentos sobre o caso em 2022.
O advogado de Fábio também entendeu que a prisão foi desnecessária e ilegal, e disse que ainda não teve acesso à toda investigação. O Fantástico não obteve retorno da defesa de Leonardo.